segunda-feira, 24 de abril de 2017

TV, SoSaude, programa n.387 Bengala Verde

Saiba Reconhecer uma Pessoa com Baixa Visão Dia Mundial da Retina e Be...

Exercícios Visuais podem melhorar a visão!





Antes de mais, quero fazer constar que neste blogue partilho minhas experiências visuais e formas de lidar com a baixa visão. 

No entanto, cada um tem a sua doença visual e não quero aqui colocar esperanças de cura, pois eu ainda não as conheço.

Porém, é preciso que partilhemos as nossas maneiras de vencer a baixa visão no dia a dia.

Uma dessas maneiras é a prática  destes exercícios visuais que me tem ajudado muito. Porém, já soube que nem em todos os casos resulta e nem são exercícios de cura.

Tirando a parte dos mantras e da exposição solar, gosto das dicas da Dra. Tatiana Gebrael. Mas faço constar que se divulgo este vídeo é apenas como exemplo. Eu já criei outros exercícios, e estes apenas são uma base para começar, se quiserem.

Um dos exercícios que ajuda muito a focar as coisas é o aproximar e afastar dos dedos dos olhos. Quando sinto nevoeiro nos olhos, pratico estes exercícios por alguns momentos e fico melhor. 

Comigo resulta, mas cada qual deve verificar se melhora ou não, de acordo com o seu problema de visão. 

A parte de expor os olhos ao sol, mesmo fechados, no meu caso, aumentou o nevoeiro nos olhos por isso aconselho que cada qual tenha sempre esta opção personalizada por usar ou não este ou aquele procedimento, pois a baixa visão revela-se de várias maneiras e origina-se devido a várias causas, por isso há que ter sempre cautela.

Um dos exercícios que gosto de fazer é fechar os olhos e dançar ao som de música clássica, fazendo os olhos, mesmo fechados, acompanharem as mãos a dançar em vários movimentos.

Como vêem, nada disto é rígido.

Faço os exercícios porque penso que devemos sempre acreditar que parar e não acreditar que conseguimos, isso é que a verdadeira cegueira.

Agradeço as vossas opiniões e partilhas pois sempre podemos aprender uns com os outros.

Obrigada.

domingo, 16 de abril de 2017

Baixa visão? Que é isso?





Quando ainda tinha a vista normal, isso de “baixa visão” passava-me “ao lado”.

Sejamos realistas! Isso é o que também acontece com a maioria das pessoas que nunca passaram pela deficiência visual.

Ou se é cego, ou não se é!

Isso era o que eu pensava há cerca de uns cinco anos atrás.

Sim, em cerca de cinco anos, a minha visão totalmente a 100% deixou de o ser, e então percebi, na minha própria pele, que afinal, a cegueira é apenas a última das inúmeras e diversificadas etapas pelas quais passa um deficiente visual.


E pensam que eu fui uma espécie de “sorteio da sorte”, que me calhou em milhões, enganam-se!

Em Portugal, segundo os dados do censo de 2001, existem 163.569 (cento e sessenta e três mil e quinhentas e sessenta e nove) pessoas com deficiência visual (cegas ou com baixa visão).

Mais precisamente existem pelo menos 30.000 (trinta mil) cegas e 133.000(cento e trinta e três mil) com baixa visão.

Sim, 133.000 pessoas têm baixa visão!

E esses números são do ano de 2001 e só em Portugal.

Sim, a baixa visão é 3 a 4 vezes mais frequente que a cegueira.

Aliás, concluiu-se do referido censo de 2001 que a deficiência visual é a deficiência com maior expressão em Portugal, com mais 20.000 (vinte mil) indivíduos que a deficiência motora.

Porém os números aumentam a cada ano.


Na 3ª Conferência sobre Doenças da Retina e Reabilitação Visual: “O mundo da baixa visão”, realizada em Lisboa a 27 de setembro de 2013, foram expostos novos números:

 A nível mundial são 285 milhões de pessoas que sofrem de deficiência visual. Destas, 39 milhões sofrem de cegueira e 246 milhões têm baixa visão.

O fator idade é importante já que 65 % das pessoas com baixa visão e 82% das pessoas cegas têm mais de 50 anos de idade.


Claro que 80% dos números mundiais em deficiência visual provém de doenças que podem ser prevenidas e tratadas. A hipertensão ocular e o Glaucoma bem como o diabetes são algumas das causas de cegueira que podem ser preventivamente tratadas.

No entanto, alguns casos como o meu (Retinopatia Pigmentar), derivam de doenças hereditárias que neste momento, não têm cura ou tratamento possível. E esta é apenas um “grão de areia” no grande “deserto” da deficiência visual.

Segundo dados do CEBV (Centro Especializado em Baixa Visão), eis os números: dos mais de 163 mil deficientes visuais, estima-se que apenas 15 a 20% são cegos.

Neste universo de “baixa visão”, encontramos uma grande maioria de pessoas, que apesar dos sintomas, acaba por não usar qualquer tipo de apoio…


 A vergonha ou mesmo a falta de esclarecimento acerca da sua deficiência visual, acaba por encaminhar muitas pessoas à cegueira, já que não recorrem aos tratamentos e ajudas técnicas possíveis, piorando o seu estado de saúde, já que muitas das doenças visuais, como já referi acima, ainda podem ser tratáveis.

Muitas pessoas que sofrem de baixa visão têm vergonha de usar bengala, porque ainda vêem alguma coisa e acabam por limitar cada vez mais as suas atividades porque já não as conseguem fazer com a segurança que antes tinham.

Neste ponto, partilho convosco uma situação que vi há alguns anos atrás, numa cidade de Portugal, em que reparei numa senhora idosa que levava consigo um guarda chuva em um dia ensolarado sem qualquer previsão de chuva.

Esta senhora, ao descer do autocarro, tocou os degraus com o guarda-chuva, demonstrando grande dificuldade para identifica-los, enquanto descia. No passeio da rua, ela continuou a usar o guarda-chuva para continuar o seu caminho até a sua casa. Claro que algumas pessoas se puseram a rir daquela situação… No entanto, eu, que já estava a passar por uma deficiência visual, e percebi de imediato que a tal senhora não estava senil ou a fazer “figurinhas tristes” por causa da idade.

Ela, certamente já não via o suficiente, e valia-se do seu guarda-chuva para ver por onde andava. Com vergonha de usar uma bengala, porque ainda via alguma coisa, preferia usar um guarda-chuva que era o seu companheiro inseparável para orienta-la nas suas dificuldades.

Este é um dos casos gritantes, pelos quais me debato, para que a Bengala Verde seja realmente vista como a bengala que identifica os deficientes com baixa visão.


Usar a bengala branca que é associada aos cegos é, por deveras, penalizante para quem ainda não é cego, pois, infelizmente debate-se com a incompreensão do público em geral.

A poucos meses, andava nas redes sociais, um pequeno vídeo de um "suposto" cego com a sua bengala a ver o seu telemóvel.

Este pequeno vídeo foi motivo de chacota nas redes sociais, porque é exactamente isso que acontece, quando pessoas como eu, que ainda vêem um bocadinho, usam uma bengala para manter a sua independência.

O público, em geral, só reconhece a cegueira total como a única patologia a necessitar de bengala.

E, quando vêem pessoas a usar a sua bengala e a fazerem certas atividades, não obtêm qualquer esclarecimento e preferem usar o meio mais rápido de entendimento: fazer piada com o mal dos outros.

Quantas vezes, na rua, tenho de andar a explicar que por causa da minha baixa visão, preciso e necessito de a usar a bengala?

E acham, que as minhas explicações elucidam a maioria das pessoas?

Não! Infelizmente, sou apenas uma andorinha que não conseguirá nunca fazer qualquer "verão" sobre esta questão.

A única maneira é haver cada vez mais pessoas a usar a bengala verde, sem preconceitos, e apesar de todas essas incompreensões.

Só assim, podemos, juntos, fazermo-nos notar e chamar a atenção de todos para a existência da baixa visão.

Esta é a minha opinião, e por isso, criei este blogue para escrever o que se passa comigo...

E se houver mais alguém, com coragem, que também faça o mesmo.

A Bengala Verde, antes de mais, é um direito para mim que necessito dela e, para os outros, é uma chamada de atenção para a minha baixa visão.

Uma das questões que por vezes se coloca, é a questão da bengala ser verde…

Penso que isto é um pouco como as cores dos semáforos. Se cada país tivesse as suas cores, que confusão seria?

A bengala verde, antes de mais, é uma sinalização para os que a vêem… 

Para quem tem baixa visão, se a bengala é azul às riscas, vermelha ou rosa com bolinhas brancas, pouco interessa…

A bengala verde já é usada em vários países (Brasil, Argentina, México,…)  para diferenciar os que a usam por terem baixa visão para que não sejam confundidos com os que são cegos totalmente.

Então, se a BENGALA VERDE já é usada em alguns países para indicar que as pessoas que a usam têm baixa visão, então porque estar a inventar mais?

Quanto mais houver ideias para ser “assim” neste país e ser “assado” em outro país, o único prejudicado com esta mania das diferenças é apenas um: aquele que precisa usar uma bengala porque padece de uma deficiência visual grave, mesmo não sendo cego, pois só assim consegue manter a sua autonomia na vida diária, sem ser alvo de falsas interpretações alheias.

Usar uma Bengala Verde é uma necessidade urgente e uma questão fundamental de saúde pública que precisa ser notada e percebida por todos!

Afinal de contas, assim diz um ditado bem antigo que “o pior cego é aquele que não quer ver”.




Bibliografia:

Dados da bengala verde consultados no site 

AAICA - Associação de Apoio e Informação a Cegos e Amblíopes -http://www.aaica.pt/quemsomos/artigosvisao.php

3ª Conferência sobre Doenças da Retina e Reabilitação Visual – “A baixa visão: apresentação e conceito” - Manuel Oliveira e Carla Costa Lança - Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa - http://hdl.handle.net/10400.21/3517

CEBV – Centro Especializado em Baixa Visão - http://www.cebv.pt/

Fotos da sequência do filme que retrata a pintura do quadro de Gráccio Caetano intitulado  "As minhas aventuras com a bengala verde" (Clique no link para ver o filme). Este quadro esteve exposto em uma exposição de pintura no Centro de Reabilitação em Areosa onde pode ser tocado com outros quadros por pessoas com deficiência visual. Após a exposição, o quadro foi doado ao Centro de Reabilitação de Areosa.


terça-feira, 4 de abril de 2017

Preciso ver com a Bengala Verde !





No passado domingo, fui a um supermercado e eis que uma senhora desconhecida vem ter comigo e diz-me:

- Gosto muito da sua bengala verde, é uma cor que gosto muito e tem muito bom gosto!

Então eu perguntei-lhe se sabia o que era uma bengala verde…

Claro que a simpática senhora, julgava que eu usava a cor verde por alguma moda ou inclinação por algum clube de futebol…

Então, aproveitei a oportunidade para lhe explicar que a bengala verde é utilizada pelas pessoas de baixa visão para assim as diferenciar dos que são totalmente cegos... 

E então, eis que a senhora ficou um pouco confusa. 

Primeiro ela não tinha a mínima ideia do que era a baixa visão, pelo que depois, veio a tal justificação de quem não sabe mesmo o que isso é:

- Ah, ainda bem que ainda vê um bocadinho… Pensei que fosse cega! - disse-me a tal senhora simpática.

Mais uma vez, tive de tentar explicar-lhe que a baixa visão é uma espécie de patamar que antecede a cegueira.

Quem tem baixa visão, realmente não pode considerar-se cego.

Mas, claro que mais uma vez defrontei-me com a incompreensão que me acompanha desde que comecei a usar a bengala verde…

Ter baixa visão, mas afinal o que isso é?

Quem tem baixa visão, poderá até ver alguma coisa, mas não o suficiente, pelo que precisa de uma bengala…

Para que as pessoas possam reconhecer a sua deficiência sem a confundir com a cegueira, a bengala verde já é utilizada em vários países como sinalização de que a pessoa ainda não é completamente cega.

Mas não me venham com a teoria dos óculos e das operações cirúrgicas ou seja lá o que for… 

Quem tem baixa visão, não consegue ver melhor com estas soluções que estão ao alcance de quem não tem uma verdadeira deficiência visual.

A baixa visão é uma deficiência visual que não pode ser corrigida com os tratamentos convencionais.

E porque a bengala tem de ser da cor verde?

A cor verde já é usada em vários países do mundo para sinalizar as pessoas com baixa visão.

Aliás, até já existem bengalas com outras cores para sinalizar outras patologias como a surdez, por exemplo.

O mais importante deste uso da tal “bengala verde” é antes de mais uma forma rápida de sinalização e de chamada de atenção especialmente para os que ainda não sofrem de uma deficiência visual.

Depois, torna-se complexo explicar que é possível ver algumas coisas enquanto que as outras passam completamente despercebidas.

Quem tem baixa visão pode ler um rótulo de um produto ou um talão de supermercado. Porém, não vai reparar num carro de compras que lhe passe ao lado…

Provavelmente quem tem baixa visão vai conseguir ler um livro, enquanto espera o autocarro. No entanto, vai ter grandes dificuldades com os degraus do autocarro, precisando da bengala verde para poder identifica-los antes de subir para o autocarro.

Uma pessoa com baixa visão poderá assinar um documento, no entanto, se não lhe disserem onde está a linha para assinar, estará a ver o papel à sua frente, sem ver a tal linha para assinar…

Uma pessoa com baixa visão poderá atender um telefonema no seu telemóvel que esteja no seu bolso ou carteira. Porém, se quiser fazer uma chamada e o telemóvel não estiver num local previamente memorizado, perderá algum tempo e por vezes desistirá de o procurar, pois não o verá mesmo que ele esteja bem à sua frente.

Uma pessoa com baixa visão poderá andar sem problemas numa rua que já tenha andado algumas vezes. No entanto, se houver obras nessa rua, nem que esteja bem sinalizado, para a pessoa com baixa visão, toda aquela alteração será um obstáculo que terá de estudar por algum tempo antes de atravessar com segurança.

Quem tem baixa visão, consegue colocar os talheres e os pratos numa mesa que já conheça. Porém, quando tiver que colocar os copos, terá de saber exatamente onde antes colocou os talheres pois arrisca-se a colocar os copos encima destes ou dos pratos…

Isso parece “de loucos” para quem não passa por isso todos os dias… Mas é assim, o que a baixa visão é!

Infelizmente, a falta de conhecimento público da doença da baixa visão provoca situações constrangedoras para os que sofrem de baixa visão.

Não são poucas as pessoas que pensam que estamos a fingir de cegos, quando, afinal de contas, não o somos.
E realmente, ainda não somos cegos…

Por isso, usar a bengala verde seria realmente, uma forma de ir dando a conhecer um problema, real e já muito doloroso, para quem dele padece.

Ao mesmo tempo, usar a bengala verde, ajudaria muito a mobilidade e a independência da pessoa com baixa visão na sua vida diária.

E ainda mais a bengala verde seria importante para que as pessoas pudessem perceber a diferença entre as pessoas completamente cegas e aquelas que ainda não são, mas que precisam de usar a bengala sem serem mal interpretadas.

Neste blogue irei partilhar as minhas experiências pessoais com o uso da bengala verde na minha vida diária.

Para além disso, irei partilhando também as minhas formas de lidar com a baixa visão no dia a dia que até podem ser úteis para outros que estão neste mesmo caminho ou que os acompanham ou conhecem...

Criei também uma página no facebook que podem também seguir e partilhar ...

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