quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Uso a bengala quando preciso!





Ontem fui a uma reunião de condomínio no meu prédio. 

Como a reunião foi feita na entrada do prédio onde moro, que é um espaço que eu já conheço bem, não levei a minha bengala. Ainda mais que estava entre pessoas conhecidas e cientes da minha deficiência visual, desde que ela começou.

Assim eu pensava!

Até que a meio da reunião uma das vizinhas, que me vê quase todos os dias, virou-se para mim e diz-me:

- Vejo que já melhorou da sua visão!

Este tipo de afirmação é só mais uma prova do quanto isto de ter “baixa visão” ou “cegueira” ainda é tão desconhecido da maior parte da população.

É uma questão muito intrigante para quem depende da visão, ver um deficiente visual que use bengala a andar sem esta, de vez em quando.

No meu caso pessoal só necessito da bengala quando vou para espaços desconhecidos e sozinha. Se tiver alguém que me sirva de guia, posso e ando sem bengala.

Tenho “baixa visão” e posso ver algumas coisas e outras não, e nem sempre vou perceber o que se passa à minha volta da mesma maneira. Ter "baixa visão" é uma espécie de lâmpada, que está prestes a fundir-se. Por vezes, dá uma luz mais forte, e outras vezes, não.

Por isso, posso ter mais facilidade em ver em certas alturas, e noutras ocasiões, estar mesmo dependente de toda a ajuda possível pois parece que a luz se acaba e não se vê mesmo nada.

Quando sei que vou para espaços públicos movimentados e sozinha, não prescindo de usar a minha bengala verde que me identifica como deficiente com baixa visão.

Precisar de usar uma bengala ou não, é um direito que me assiste em qualquer situação da vida que julgar pertinente.

Não é porque uso bengala que tenha ou precise de a usar em todos os momentos da minha vida.

Até mesmo, quem é cego total, e já vi isso em muitas situações concretas, em determinados momentos e espaços, não vai necessitar estar sempre com a bengala em uma das mãos.

Aliás, assim como todas as outras pessoas não deficientes visuais que precisam das duas mãos para fazerem as suas atividades diárias, também quem tem deficiência visual necessita ainda mais das suas duas mãos, já que as usa também para perceber melhor os objetos à sua volta, tocando-os.

Por isso, usar ou não usar a bengala não significa que estamos a ficar mais ou menos cegos. 

Significa simplesmente que usamos a bengala quando necessitamos dela pois a bengala é apenas um dos meios que utilizamos para mantermos a nossa mobilidade no dia a dia e nem sempre vamos precisar dela.

(Texto e fotos de Rosária Grácio)